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Trem das Montanhas Capixabas: como é o passeio?

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Como eu já disse aqui, o passeio do Trem das Montanhas Capixabas refaz uma pequena parte do trajeto percorrido pelos imigrantes europeus no Espírito Santo. Ele começa na cidade de Viana, ocupada por portugueses (açorianos); passa pelo Distrito de Vale da Estação, no município de Domingos Martins, fundado por alemães; e segue para Marechal Floriano e Araguaia, região formada predominantemente por imigrantes italianos.

Por aí você vê que tradição e história não faltam nesse passeio. Na arquitetura, no artesanato, nos mini-museus, na culinária e, principalmente, nas pessoas, você vai conhecer um pouco do legado que os imigrantes europeus deixaram na rica história da formação do povo capixaba. E que legado!

O que talvez falte nesse tour é a beleza natural das nossas montanhas. O que você vai ver pela janela do trem nem de longe é o que nós temos de mais bonito na região serrana. Em alguns pontos do trajeto, a paisagem surge meio desordenada, feia até. Especialmente nos trechos urbanos de Viana e Marechal Floriano e nas áreas rurais do percurso entre Marechal e Araguaia, onde sobram eucaliptos e pés de café.

Mas não se engane. Esse é só um aperitivo dos atrativos que você encontra nessa região, uma das mais belas do nosso Estado. :)

O passeio começa na Estação Ferroviária de Viana.

Estação Ferroviária de Viana

Historicamente, a cidade de Viana foi o último ponto de ocupação portuguesa em solo capixaba. Foi o máximo que eles avançaram em direção ao interior do Estado, subindo pelas águas do Rio Jucu. Segundo consta, 53 famílias provenientes das  ilhas açorianas desembarcaram no Espírito Santo entre 1812 e 1814 e se instalaram em Viana, onde estabeleceram propriedades agrícolas que, por muito tempo, abasteceram a região de arroz, milho e cana de açúcar.

A herança açoriana pode ser avistada na arquitetura de alguns casarios que ainda sobrevivem no município. O mais simbólico deles é o chamado Casarão. Ele foi construído na segunda metade do Século XIX e preserva a sua forma original.

Galeria de Arte Casarão de Viana

Hoje o Casarão funciona como Galeria de Arte. Mas, se você foi até Viana para fazer o passeio do Trem das Montanhas Capixabas, você não vai poder conhecê-lo por dentro. Por alguma razão que eu não sei te explicar qual, ele não abre aos sábados e domingos, justamente os dias em que os passeios ocorrem.

O mesmo vale para a Casa de Cultura. Os turistas que vão ao Trem das Montanhas também não podem conhecer as exposições de arte dessa galeria, que também funciona como museu, com documentos e artigos que retratam a história do município. Ela só funciona de segunda a sexta.

Casa de Cultura de Viana

Alô, Prefeitura de Viana! Tá na hora de rever seus conceitos!

Eu cheguei mais cedo à Viana para fazer uma varredura nos pontos turísticos da cidade, mas acabei conhecendo apenas a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, a única que estava aberta.

Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição

A igrejinha e suas palmeiras imperiais emolduram a paisagem de Viana do alto de um elevado que pode ser avistado de várias partes da cidade. É bem fácil chegar até ela.

Sua construção é  datada de 1816. Em cima da porta frontal, uma placa noticia a visita ilustre do Príncipe Regente D. João em 1860.

Seu interior é bem simplório e assusta um pouco pela quantidade de infiltrações nas paredes.

Cadê o IPHAN, gente!

De resto, a própria Estação Ferroviária é um ponto turístico. Ela foi inaugurada em 1895 como parte da ferrovia que ligava Vitória a Cachoeiro de Itapemirim.

Bem na entrada está exposta uma locomotiva a vapor fabricada em 1917, na Filadélfia, Estados Unidos. Utilizada originalmente pelo exército francês durante a Primeira Guerra Mundial, ela foi adquirida em 2006 pelo Município de Viana apenas para figuração.

Dentro de cada uma das estacoes ferroviárias do passeio, o Governo do Estado organizou espaços para exposição do artesanato típico das regiões. Na de Viana, predominam os trabalhos manuais em tecido, como bordados e fuxicos.

O trem, que é do tipo litorina, sai às 10h30. Ao todo são 50 lugares numerados num único vagão com ar-condicionado, janelas panorâmicas e um banheiro para os tripulantes. A velocidade máxima não passa de 25 km/h por questões de segurança, já que a linha passa dentro de áreas urbanas.

O ingresso dá direito a um kit lanche com bebidas à vontade (água ou refrigerante). Um guia acompanha a tripulação em todo o passeio, dando informações sobre os lugares visitados. No dia em que eu fui, nossa guia era a Roberta, essa moça simpática da foto aí:

Já na saída, a Roberta deu um apanhado geral sobre a história da imigração europeia no Espírito Santo. Contou que os alemães que aqui chegaram subiram a serra pelo Rio Jucu e pararam na região da cidade de Domingos Martins. Que os alemães católicos se estabeleceram em Santa Isabel, enquanto os luteranos foram para Campinho, atual sede do Município. Que, por sua vez, uma leva de imigrantes italianos subiu pelo Rio Benevente (que desemboca em Anchieta, no sul do Estado), ocupando a região que vai de Alfredo Chaves até Venda Nova do Imigrante. E que, em Marechal Floriano, as culturas alemã e italiana se misturaram.

Quando o trem começa a subir a serra e entra no município de Domingos Martins, a paisagem muda drasticamente. As fazendas de Viana dão lugar a belas corredeiras do Rio Jucu e pedaços ainda preservados de Mata Atlântica.

Esse é o trecho do percurso em que a paisagem do entorno verdadeiramente enche os olhos pela exuberância da natureza. O maquinista dá até umas paradinhas no trem para a gente encher o chip da máquina.

Quando a gente estava em cima dessa ponte de ferro aí, vimos até um gavião, uma águia ou qualquer ave parecida sobrevoando a mata:

Ela está escondida em algum lugar dessa foto. Pode procurar.

Para a alegria da criançada, o trem passa por dois túneis, em que a escuridão é total. O primeiro deles, o mais longo, tem mais de 200 metros de comprimento.

A chegada na Estação Ferroviária de Vale da Estação, município de Domingos Martins, se dá às 11h40. Antes mesmo de descermos do trem, a Roberta já avisa: “reparem no senhor de boina branca. Ele é um dos moradores mais ilustres de Vale da Estação. É o ‘Seu’ Gustavo, descendente de alemão, que tem 101 anos de idade”.

Lá fui eu atrás dessa preciosidade. Não desgrudei do “Seu” Gustavo até conseguir uma foto com ele.

Eu e o “seu” Gustavo

Aonde que esse homem parece ter 101 anos de idade, minha gente? E não é só a aparência dele que é invejável, não. Segundo a Roberta, ele tem uma saúde de ferro!

Eu ficaria horas conversando com o “Seu” Gustavo, a lenda viva de Vale da Estação. Mas a gente tem só 5 minutos para aproveitar a parada.

Aliás, essa é  uma das maiores falhas do passeio em minha opinião. As paradas nas estações são extremamente curtas e não permitem que você explore os lugares com mais cuidado. Em Marechal Floriano, por exemplo, onde há uma espécie de museu na estação, mal dá pra passar os olhos nas peças. E até mesmo em Araguaia, onde o intervalo de parada é maior para o almoço, quase não dá tempo de conhecer as poucas, mas boas atrações, do distrito.

Os poucos minutos que o trem fica em Vale da Estacão só dão para você observar de longe os detalhes da arquitetura alemã nas casinhas do entorno.

O distrito de Vale da Estação

E para encher a mochila com as guloseimas do agroturismo tipico da região que são vendidas dentro da estacão.

Meia hora depois o trem se aproxima da Estacão de Marechal Floriano. A Roberta logo chama a nossa atenção para um fato inusitado: as pessoas de Marechal adoram dar tchau!

Em Marechal, a Estacão Ferroviária foi transformada numa espécie de mini-museu, onde estão expostos documentos e artigos históricos sobre a imigração italiana, a fundação da cidade e suas orquídeas.

Estação de Marechal Floriano

Para quem não sabe, Marechal é conhecida como “cidade das orquídeas” pela quantidade e grande variedade de flores desta espécie encontradas no seu entorno. 

É uma pena que, na estação, não se encontrem vasos de orquídeas à venda (em Araguaia, eu vi!). A cidade é cheia de orquidários e não deve ser difícil convencê-los a ampliar seus pontos de vendas. 😀

De Marechal o trem leva mais 40 minutos até a parada final, na Estacão de Araguaia, que fica no distrito de mesmo nome. O trajeto até lá é o mais agrícola de todos. A paisagem na janela é dominada por plantações de eucalipto e café.

Mas há alguns (poucos) sobreviventes no meio desse “deserto” todo, como esse ipê aí:

Em Araguaia a parada é um pouco mais extensa. Dura 1 hora. É que, ali, os turistas são convidados a almoçar no único restaurante da vila, o Bella Araguaia.

Restaurante Bella Araguaia

O restaurante funciona no esquema bufê. Você paga R$20,00 e come à vontade. A comida é caseira e revela a influência italiana da região: massa e polenta.

Eu tava com fome, sô!

Mais uma vez, o tempo de parada não é suficiente para você explorar as atrações de Araguaia. Elas são poucas, mas são boas: o Centro Cultural Ezequiel Ronchi e a Casa Rosa.

Com o pouco tempo que me sobrou depois do almoço optei por conhecer a Casa Rosa, que fica bem ao lado do restaurante. Fui meio desconfiado e totalmente sem expectativas para conhecer um lugar do qual eu nunca tinha ouvido falar. Talvez por isso eu tenha me surpreendido tanto! A Casa Rosa foi de longe a atracão que eu mais gostei em todo o passeio.

Museu Casa Rosa

Ela é, na verdade, um museu. Você paga R$2,00 para visitá-la. Quem me recebeu no dia foi o Hilton, neto dos donos da casa. Foi ele quem me contou a história do lugar.

Trata-se de uma autêntica casa de imigrante totalmente preservada, construída em 1875. Foi a única que sobrou para contar a história da imigração européia na região de Araguaia.

Segundo o Hilton, ela foi construída por um imigrante polonês que veio para Araguaia trabalhar na construção da estrada de ferro. Posteriormente, foi adquirida por seus avós, um português casado com uma italiana.

Foram eles que legaram para a família essa incrível herança. Uma herança que foi respeitosamente preservada pelos seus descendentes!

Palmas para eles!

Eu juro que não acreditava no que via. Aquela casa literalmente parou no tempo. Até o mobiliário foi trazido de uma época muito diferente da atual.

Minha empolgação com a Casa Rosa foi tanta que eu não tive dúvidas em mandar um e-mail sugerindo ao Ricardo Freire, do Viaje na Viagem, uma charada da sexta sobre ela. Eu tinha certeza que pouca gente saberia de sua existência, até porque muito pouca gente conhece o Trem das Montanhas Capixabas.

Não deu outra! O Ricardo aceitou a sugestão e subiu a charada nesse post aqui. Como ele mesmo disse, “a charada era da categoria megadifícil“. O motivo? Palavras do próprio Ricardo: “o trem turístico em questão, o Trem das Montanhas Capixabas, é um dos caçulas na área. E fica num estado que, a despeito de seus grandes charmes, continua à margem do turismo mainstream”.

No auge da minha concentração fotográfica, eu esbravejei muito quando ouvi o sinal do trem anunciando a partida. E ali eu tive a absoluta certeza de que a logística do passeio está muito errada. É preciso aumentar o tempo de parada nas estações para permitir que os turistas explorem melhor as redondezas. Não dá pra contar que eles se satisfaçam apenas com a paisagem que se vê na janela.

Saí tão em cima da hora que nem tive tempo de provar o sorvete artesanal que é vendido numa lanchonete bem embaixo da Casa Rosa. E isso só aumentou a minha frustração!

Antes de embarcar, porém, fiz questão de garantir mais quitutes de viagem. Comprei massa de macarrão caseira, palha italiana e até um vinho que é preparado na região.

O trem sai às 15h e percorre o mesmíssimo trajeto. Sem novidades na janela, o povo aproveita para cochilar. Novamente, há paradas breves em cada uma das estações. É a última chance de abastecer a sua mochila com as guloseimas vendidas em Vale da Estação e Viana.

O passeio termina às 17h com a chegada do trem na Estação de Viana.

Meu veredito final? O Trem das Montanhas Capixabas é uma ótima opção de passeio tanto para o capixaba que aprecia a história do seu povo como para o turista que, com pouco tempo disponível em sua viagem a Vitoria, faz questão de conhecer um pouco (muito pouco, eu diria) do muito que as nossas montanhas tem para dar.

E para quem tem filhos, taí uma sugestão de programa imperdível para a criançada!

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